sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Por trás das câmeras

Júlio Alessi



Ao assistirmos a um filme no cinema, não imaginamos o quanto é difícil produzi-lo. Entramos em um estado de “catarse”, vivenciando a história projetar-se na tela, e com ela, conseguimos nos emocionar, a tal ponto de esquecermos, por alguns instantes, da vida lá fora. Se alguém interrompe essa barreira verossímil, trazendo-nos de volta à realidade, em momentos em que o filme ainda não acabou, ficamos “furiosos”. Também se por acaso, notarmos os recursos técnicos utilizados, geralmente é devido a um exagero, ou mesmo uma falha, pois quanto melhor for a execução de um filme, menos perceberemos seus efeitos.

O cinema é uma arte coletiva, produzida por várias pessoas ao mesmo tempo, e a sua coordenação é realizada pelo diretor, o qual seria como um maestro em um grande concerto, e os instrumentistas são as equipes técnicas que compõem os departamentos de produção. Se tudo estiver afinado, a composição das cenas proporcionará aos espectadores um grande espetáculo repleto de momentos emocionantes, reflexivos, estimulantes, etc... Esses profissionais são fundamentais para personificar as imagens e sons criados pelos roteiristas, proporcionando suas contribuições artísticas específicas para que a obra manifeste-se com qualidade audiovisual.

Acompanhamos recentemente a entrega do Oscar, o evento pelo qual premiam-se os trabalhos desses artistas, cujas funções, muitas vezes, são desconhecidas do grande público. A premiação mais popular do cinema, geralmente, contempla grandes produções hollywoodianas e como são várias categorias premiadas, o público desconhece o trabalho que cada um desses departamentos desempenha para com o filme. Basicamente reconhece-se: Melhor filme, diretor, ator, atriz, melhores atores coadjuvantes, e, na melhor das hipóteses, o prêmio para melhor canção. Talvez várias pessoas questionem: - Por que a música mais bonita não ganhou o prêmio?

Em busca de uma melhor compreensão dessas áreas da produção de cinema, esse artigo busca descrever, de forma sucinta, quais são os principais profissionais envolvidos na criação de um filme, como também, a responsabilidade de cada um, para que pelo menos se tenha uma breve noção do grande compromisso que se tem, ao se levar uma obra cinematográfica para as telas. Espero que os espectadores, ao conhecerem melhor a técnica, saibam valorizar ainda mais as grandes produções cinematográficas que fizeram e fazem a história do cinema.

O filme começa a partir de uma idéia como qualquer outra arte, e o responsável por traduzir essa idéia em um produto audiovisual é o roteirista. O roteiro não é um texto literário e nem filme ainda. Geralmente é considerado desinteressante para se ler, pois é um texto que se transformará em imagens, nele estarão contidas as informações sobre o que será visto, ou ouvido pelo espectador. O roteiro possui a descrição das cenas, e os diálogos presentes na narrativa. Sendo dois tipos básicos: o roteiro original, que é uma história inédita, criada exclusivamente para o cinema; e o roteiro adaptado, baseado em outra obra: um livro, conto, uma peça de teatro, ou outra produção artística. O roteiro do filme é entregue para um produtor executivo, profissional que ficará encarregado de garantir a produção do mesmo, contratando toda a equipe técnica, inclusive o diretor e também realizará a gestão da produção, ele, portanto, é o chefe. Em grandes produções da indústria cinematográfica o produtor executivo possui a palavra final.

A parte artística fica a cargo do diretor, que baseado no roteiro, fará uma decupagem técnica para definir qual será o estilo visual do filme, de acordo com seu repertório, e sua criatividade. Participa de todas as etapas da produção, desde a escolha da equipe até a finalização da obra. É o diretor que assina o filme, pois as escolhas artísticas estão sob a sua responsabilidade, o principal trabalho que realiza é a direção de cena, na qual indica-se para as equipes técnicas e os atores, como as cenas descritas no roteiro serão encenadas. Na história do cinema podemos destacar grandes diretores que ajudaram a desenvolver a linguagem do cinema, ou a aprimorá-la, como: George Meliès, Griffith, Eisenstein, Chaplin, Murnau, Hitchcock, Orson Welles, Billy Wilder, Truffaut, Godard, Rossellini, Fellini, Sica, Kurosawa, Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Coppola, Spilberg, Martin Scorsese, Woody Allen, Kubrick, Pedro Almodóvar, Kieslowski, Bergman, Walter Salles, Fernando Meirelles, entre muitos outros.

O braço direito dos diretores, o profissional que irá personificar os conceitos visuais pretendidos, é o diretor de fotografia: responsável pela estética visual do projeto, definindo juntamente com o diretor, os planos (enquadramentos), movimentos de câmera, e padrão de cores. A fotografia do filme é uma das áreas mais importantes da produção, pois todas as imagens que serão geradas pela câmera, estarão sob a supervisão direta do diretor de fotografia. Uma das principais características de uma boa fotografia é mostrar os conceitos do filme, transmitindo as emoções através de imagens. No caso as fotografias de cena, que normalmente serão utilizadas nas peças publicitárias, são realizadas pelo fotógrafo still, que não tem nenhuma ligação com a concepção da fotografia em movimento.

O diretor de arte é responsável pela criação ou escolha dos cenários, objetos de cena, locações, texturas, cores e decoração dos ambientes utilizados no filme. Temos outros profissionais ligados à arte que são: figurinista, cria os figurinos utilizados pelos atores; maquiador, faz tanto maquiagens de correção, quanto efeitos de maquiagem para um envelhecimento, ou para simular ferimentos; e o cabeleireiro.

No cinema, além da linguagem visual e verbal, alia-se a linguagem sonora que é muito importante para a narrativa fílmica. Várias mensagens são transmitidas através dos sons, ou mesmo da música presente na história. Nesse departamento temos várias pessoas envolvidas ,com atividades tão complexas quanto as equipes relacionadas à imagem. Aos sons do filme denominamos trilha sonora (diálogos, ruídos e música), e para criar essa trilha temos o sound designer (projetista de som), o qual cria as ambientações sonoras, cuidando para que o conceito da cena tenha uma percepção sonora adequada. Quando assistimos ao filme tubarão, não percebemos que na maioria do tempo não vemos o tubarão, somente escutamos o som que remete ao peixe, esse é apenas um dos exemplos de utilização do som de forma narrativa. Não podemos nos esquecer do diretor musical, o qual criará a música do filme, sincronizada com as imagens. Várias dessas músicas no cinema viraram verdadeiros clássicos, e quando as escutamos, lembramos imediatamente dos filmes e das emoções remitidas por elas.

Um filme é criado três vezes: a primeira é através do roteiro; a segunda são as filmagens coordenadas pelo diretor; e a terceira fica a cargo do montador ou editor, que ao se deparar com aquelas imagens e sons, corta, junta e mistura os elementos audiovisuais para tornar esse quebra-cabeça uma história cinematográfica que seja capaz de emocionar as pessoas.

São vários departamentos com sub-equipes, artísticas e técnicas, as quais irão garantir que o processo todo fragmentado de produção chegue à sala de montagem e se transforme em algo fluido e agradável ao público. Se algum elemento não conseguir êxito, o filme como um todo poderá ser prejudicado. Um filme, por ser uma arte realmente coletiva, dificulta a determinação de sua paternidade, mas, graças a essas pessoas que dedicam sua vida à sétima arte, temos o prazer de conhecer novos mundos, personagens e novas histórias que nos levam a sonhar outras realidades.



Filmografia:


- Um home com uma câmera (Dziga Vertov – 1929)


- Cantando na chuva (Gene Kelly, Stanley Donen – 1952)


- 81/2 (Federico Fellini – 1963)


- Noite americana (François Truffaut -1973)


- Cinema paradiso (Giuseppe Tornatore – 1989)

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