segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

EDUARDO COUTINHO

Eduardo de Oliveira Coutinho nasceu em São Paulo, no dia 11 de maio de 1933. É um cineasta brasileiro, considerado um dos mais importantes documentaristas da atualidade.
Seu trabalho é caracterizado pela profundidade, pela capacidade de ouvir o outro, e sensibilidade com que aborda problemas e aspirações da grande maioria marginalizada, seja em favelas, no sertão ou na boca do lixo. Traz a emoção humana sem sentimentalismo nem truques. Apenas expõe a realidade com um olhar atento e compreensivo, dando a voz sem manipular, e concedendo, na montagem, o tempo necessário em cada plano para que a verdade das "personagens" possa se desvelar para a lente.
Eduardo Coutinho cursou Direito em São Paulo, mas não concluiu.
Em 1954, aos 21 anos, teve seu primeiro contato com cinema no Seminário promovido pelo MASP e dirigido por Marcos Marguliès. Trabalhou como revisor na revista Visão (1954-57) e dirigiu, no teatro, uma montagem da peça infantil Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado. Ganhou um concurso de televisão respondendo perguntas sobre Charles Chaplin. Com o dinheiro do prêmio, foi para a França estudar direção e montagem no IDHEC, onde realizou seus primeiros documentários.
De volta ao Brasil em 1960, teve contato com o grupo do Cinema novo e integrou-se ao Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC da UNE). No núcleo dirigido por Chico de Assis, trabalhou na montagem da peça Mutirão em Nosso Sol, apresentada no I Congresso dos Trabalhadores Agrícolas que aconteceu em Belo Horizonte em 1962. Foi gerente de produção do primeiro filme produzido pelo CPC, o longa-metragem de episódios Cinco Vezes Favela.
Escolhido para dirigir a segunda produção do CPC, Coutinho começou a trabalhar num projeto de ficção baseado em fatos reais, reconstituindo o assassinato do líder das Ligas Camponesas João Pedro Teixeira, a ser interpretado pelos próprios camponeses do Engenho Cananéia, no interior de Pernambuco, inclusive a viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, que faria o seu próprio papel. O filme se chamaria Cabra Marcado para Morrer, e chegou a ter duas semanas de filmagens, até o Golpe Militar de 1964. Parte da equipe foi presa sob a alegação de comunismo e o restante se dispersou, interrompendo a realização do filme por quase 20 anos.
Em 1966, Coutinho constituiu, com Leon Hirszman e Marcos Faria, a produtora Saga Filmes. Dirigiu um episódio do longa ABC do Amor, foi diretor substituto em O Homem que Comprou o Mundo (1968) e realizou uma adaptação de Shakespeare para o cangaço brasileiro, em que o personagem Falstaff tornou-se Faustão (1970).
Especializando-se em roteiro, foi co-roteirista de vários títulos importantes do cinema brasileiro, como A Falecida (1965) e Garota de Ipanema (1967) de Leon Hirszman, Os Condenados de Zelito Viana (1973), Lição de Amor de Eduardo Escorel (1975) e Dona Flor e Seus Dois Maridos de Bruno Barreto (1976).
Em 1975, passou a integrar a equipe do programa Globo Repórter, da TV Globo, juntamente com Paulo Gil Soares, João Batista de Andrade e outros. Permaneceu no programa até 1984, sempre rodando em 16 mm, com uma liberdade editorial surpreendente para a época, e acabou descobrindo sua vocação de documentarista em trabalhos inovadores como Teodorico, o Imperador do Sertão, sobre o líder político nordestino Theodorico Bezerra.
Em 1981, Coutinho reencontrou os negativos de Cabra Marcado para Morrer, que haviam sido escondidos da polícia por um membro da equipe, e resolveu retomar o projeto. Conseguiu localizar Elizabeth Teixeira em São Rafael, no interior do Rio Grande do Norte. Mostrou-lhe o que havia sido filmado em 1964 e filmou o depoimento dela sobre a dispersão de sua família após a interrupção do filme. A partir daí, a "ficção baseada em fatos reais" transforma-se num dos mais extraordinários documentários jamais filmados, retratando e acompanhando as tentativas de Elizabeth por reencontrar seus filhos, em diferentes pontos do país, e refletindo sobre o que aconteceu com a sociedade brasileira no longo período da ditadura militar. O filme ficou pronto em 1984 e ganhou 12 prêmios em festivais internacionais, no Rio de Janeiro, Havana, Paris, Berlim, Setúbal, entre outros.
Após o sucesso de Cabra marcado para morrer, Coutinho afastou-se do Globo Repórter e passou alguns anos trabalhando com documentários em vídeo para o CECIP (Centro de Criação da Imagem Popular), com temas ligados a cidadania e educação. São dessa época projetos como Santa Marta e Boca de lixo, visões humanistas e pessoais sobre indivíduos e populações marginalizadas. Também escreveu roteiros para séries documentais da TV Manchete, como 90 Anos de Cinema Brasileiro e Caminhos da Sobrevivência sobre a poluição em São Paulo.
Em 2004, a pesquisadora Consuelo Lins publicou, pela editora Zahar, o livro O Documentário de Eduardo Coutinho.


Filmografia
1966: O Pacto (episódio do longa ABC do Amor)
1968: O Homem que Comprou o Mundo
1970: Faustão
1976: O Pistoleiro de Serra Talhada (média-metragem)
1976: Seis Dias em Ouricuri (média-metragem)
1978: Teodorico, o Imperador do Sertão (média-metragem)
1979: Exu, uma Tragédia Sangrenta (curta-metragem)
1980: Portinari, o Menino de Brodósqui (média-metragem)
1984: Cabra Marcado para Morrer
1987: Santa Marta - Duas semanas no morro (média-metragem)
1989: Volta Redonda, o Memorial da Greve (média-metragem)
1989: O Jogo da Dívida (média-metragem)
1991: O Fio da Memória
1992: A Lei e a Vida (média-metragem)
1993: Boca de Lixo (média-metragem)
1994: Os Romeiros de Padre Cícero (média-metragem)
1999: Santo Forte
2000: Babilônia
2002: Edifício Master
2004: Peões
2005: O Fim e o Princípio
2007: Jogo de Cena
2008: Moscou

Como roteirista
1965: A Falecida, dirigido por Leon Hirszsman (ficção 35mm);
1967: Garota de Ipanema, dirigido por Leon Hirszsman (ficção 35mm);
1973: Os Condenados, dirigido por Zelito Viana (ficção 35mm);
1975: Lição de Amor, dirigido por Eduardo Escorel (ficção 35mm);
1976: Dona Flor e Seus Dois Maridos, dirigido por Bruno Barreto (ficção 35mm);
1985-1986: Episódio de Caminhos da Sobrevivência (série para TV Manchete de Washington Novaes);
1988: 90 Anos de Cinema Brasileiro (série para TV Manchete em vídeo).

Premiações
2007: Melhor filme segundo a APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte).
2007: Kikito de Cristal, no Festival de Gramado pelo conjunto da obra;
2003: Prêmio Multicultural Estadão, ganhador na categoria criadores;
2002: Kikito de Ouro de Melhor Documentário, no Festival de Gramado, por Edifício Master;
2002: Prêmio de Melhor Documentário - Crítica, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, por Edifício Master;
2000: Prêmio de Melhor Documentário, no Grande Prêmio BR de Cinema, por Babilônia;
2000: Troféu Passista de Melhor Fotografia, no Festival de Recife, por Babilônia;
1999: Prêmio Especial do Júri, no Festival de Gramado, por Santo forte;
1999: Prêmio de Melhor Filme, no Festival de Brasília, por Santo forte;
1999: Prêmio de Melhor Roteiro, no Festival de Brasília, por Santo forte;
1984: Prêmio FIPRESCI, no Festival de Berlim, por Cabra Marcado para Morrer.

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